Na área da saúde, principalmente nos últimos anos, ampliou-se significativamente a expectativa de vida e bem estar, permanecendo, porém, a impotência diante da morte.
Fica a questão: Como lidar com pacientes com doenças terminais, sem condição de cura, expostos a tratamentos que lhes prolonguem o tempo de vida, mas, com sofrimentos demasiados?
Somos criaturas mortais, portanto, saber que um dia em nossa existência teremos que viver o momento da própria morte pode nos dar a visão de que precisamos ficar atentos quanto ao fato de não cairmos na obstinação pela luta para manter a vida de todas as formas, tentando adiar o inevitável que, infelizmente, somente acrescenta sofrimento e diminui a qualidade de vida.
Quando um paciente se encontra em fase de terminalidade, o objetivo principal do cuidado não é mais preservar a vida, mas torná-la o mais confortável e digno possível. Os familiares e responsáveis pelos cuidados, entram nesta empreitada com o objetivo de fazer o melhor, normalmente, com o desejo de preservar a vida sem medir esforços. Atitude completamente louvável. Na execução deste propósito, muitas coisas acontecem. Por vezes, os responsáveis pelo cuidado, assumem as responsabilidades e no afã de fazer o melhor e atingir o desejado, se esquecem de ouvir a voz de quem mais tem interesse nos bons resultados deste cuidado: o paciente.
É preciso ouvir esta voz que pode nos dizer o que, para ele, é melhor e o que prefere, o que deseja fazer, viver, experimentar. Neste momento é preciso respeitar a autonomia do paciente, permitindo que ele, o mais interessado, possa nos direcionar no caminho que o conduzirá à realizações e fechamentos .
Lembro-me de um caso compartilhado em supervisão que exemplifica o quanto é valioso ouvir o que o paciente tem a nos dizer. Era um senhor de origem japonesa, vítima de um câncer em fase terminal. Vamos chamá-lo de Sr. João. A família era uma rede de apoio presente, disposta a contribuir para proporcionar momentos agradáveis para o Sr João . A psicóloga que os acompanhava, procurou a família para dizer-lhes que observara que nos próximos dias Joao completaria mais um ano de vida. Propôs então realizar uma festa surpresa para comemorar seu aniversário. A princípio , a família não se empolgou. Alguns diziam: “ele nunca comemorou aniversário”, “ele sempre trabalhou muito e não se importa com estas coisas.” “Ele não gosta de festas”. Mas enfim, resolveram então fazer a festinha, algo simples, mas com a presença de pessoas importantes para o Sr. João. A família se mobilizou e organizou uma festa com tudo que o Sr. João gostava .
Chegou o grande dia. Todos estavam lá: familiares, equipe de enfermagem, médicos, uma verdadeira movimentação. Tudo foi maravilhoso. Ao termino da festa Joao, agradeceu a todos e em meio a lagrimas, disse o quanto estava feliz, pois aquela era a primeira festa de aniversário que teve em toda sua vida e que sempre desejou uma, que era muito agradecido a sua família de proporcionar um momento tão especial em sua vida.
A esposa do Sr. João declarou que ficou surpresa com as palavras dele, mas que nunca havia pensado na hipótese de ele desejar uma festa. Sentiu-se feliz e agradecida à psicóloga por proporcionar à família a oportunidade de realizar aquele desejo do Sr. João e poderem viver aquele momento que ficaria gravado em suas memórias.
Quando falamos em dignidade no fim da vida, é buscar junto ao paciente qualidade de vida, proporcionar momentos alegres, pequenas realizações, com grandes significados para o paciente e familiares.
É um dos papeis do psicólogo acompanhar os pacientes e familiares, atuando como um facilitador nas tomadas de decisões e articulações entre paciente, familiares e equipe médica. No caso do Sr. Joao, a realização de uma festa de aniversário demonstrou o quanto a profissional psicóloga exerceu com sensibilidade sua função.
Autora: Conceição Fernandes
Psicóloga - CRP: 06/132440
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